Miniaturas . o vê a êle, o eleito dasua beleza, no tremular indeciso, gradual,que tem a chama da candeia quando se ex-tingue, no minuto consciente para a vidaque renasce muito lá ; ela bem o ouve, a êle,lívido como um Cristo da colecção marfíneados museus, balbuciar no último esforço in-gente, luzita da candeia a iluminar maisque a luz do sol inteiro; «o homem quevier depois de mim. . ouve, Maria. . quete compreenda como eu te compreendi. .».E chora. Ela, farrapo de luar dele, cousaescrava, mulher que se transformou em mãee virgem, irmã e noiva, pecado e purezainviolável de mistério, ela para


Miniaturas . o vê a êle, o eleito dasua beleza, no tremular indeciso, gradual,que tem a chama da candeia quando se ex-tingue, no minuto consciente para a vidaque renasce muito lá ; ela bem o ouve, a êle,lívido como um Cristo da colecção marfíneados museus, balbuciar no último esforço in-gente, luzita da candeia a iluminar maisque a luz do sol inteiro; «o homem quevier depois de mim. . ouve, Maria. . quete compreenda como eu te compreendi. .».E chora. Ela, farrapo de luar dele, cousaescrava, mulher que se transformou em mãee virgem, irmã e noiva, pecado e purezainviolável de mistério, ela para outro ho-mem ! Incompreendida! E morde os lábios,e desfaz-se no seu próprio impossível, pode-roso como uma esterilidade. Lá anda, lá avejo, alucinada, desvairada a arrepender-sedele, que foi generoso e bom, humano nahora da visão profética dos instintos ; dele,sobre cujo leito de argila suja caem nestemomento apenas as lágrimas que a noitechora sobre todos os que deixaram de ... as suas rosas de despedida (p. 139) Aguarela de Helena Gameiro DAS MULHERES 139 # Na manhã do dia em que ela partiu, fe-liz, com o marido, para essa viagem estra-nha de noivado, êle, o preterido, na horaem que no Coração de Jesus gemiam os ór-gãos e ardiam círios perfumados, entrou napequenina biblioteca discreta onde ela cos-tuma passar a tarde namorando as heroínasdas novelas, e, arredando os autores despre-zados, colocou no solitário de cristal liso,sobre a madeira negra do bufete italiano,as suas rosas de despedida. Apenas a criadapredilecta deu por isso. A porta fechou-senessa tarde, os noivos partiram, e correramdez meses. Que linda a Itália ! Que maravi-lha rendada a das renascenças! E como éazul o céu e amoroso o ar quente que serespira noa museus, macios como veludosde Tinturetto! Quando ela voltou —longaviagem de núpcias! — quando ela voltou,a sua livraria dormia no esquecimento fe-liz dos seus dedos, OS quadros meditavam,a poeira tiuha uma respi


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